- Quais têm sido os assuntos mais urgentes que tem que atender?
- Assuntos urgentes há todas as manhãs, referentes a excessos e erros que se cometem na liturgia, mas sobretudo, o assunto mais urgente, que é urgente em todo o mundo, é que se recupere de verdade o sentido da liturgia. Não se trata de mudar rubricas ou introduzir novas coisas, mas, do que se trata, simplesmente, é que se viva a liturgia e esta esteja no centro da vida da Igreja. A igreja não pode ser sem a liturgia, porque a Igreja é para a liturgia, isto é, para o louvor, para a ação de graças, para oferecer o sacrifício ao Senhor, para a adoração... Isto é fundamental, e sem isto não há Igreja. E mais, sem isto não há humanidade. Por isso é uma tarefa sumamente urgente e obrigatória.
- Como se recupera o sentido da Liturgia?
- Nestes momentos, trabalhamos de uma maneira muito silenciosa em toda uma série de temas que têm que ver com projetos de formação. É a necessidade prioritária que se tem: uma boa e verdadeira formação litúrgica. O tema da formação litúrgica é capital porque realmente não se conta com uma formação suficiente. A gente crê que a liturgia é uma questão de formas ou de realidades exteriores, e o que realmente nos faz falta é recuperar o sentido da adoração, isto é, o sentido de Deus como Deus. Este sentido de Deus só se poderá recuperar com a liturgia. Por isso, o Papa tem tantíssimo interesse em acentuar a prioridade da liturgia na vida da Igreja. Quando se vive o espírito da liturgia, se entra no espírito da adoração, se entra no reconhecimento de Deus, se entra em comunhão com Ele, e isto é o que transforma o homem e o converte em um homem novo. A liturgia visa sempre a Deus, não à comunidade; não é a comunidade a que faz a liturgia, senão que é Deus quem a faz. É Ele quem sai a nosso encontro e nos oferece participar em sua vida, em sua misericórdia, em seu perdão... Quando se viver a liturgia de verdade e Deus estiver verdadeiramente no centro dela, tudo mudará.
- Tão distantes estamos hoje do sentido verdadeiro do mistério?
- Sim, atualmente há uma secularização e um laicismo muito grandes, se tem perdido o sentido do mistério e do sagrado, não se vive com o espírito verdadeiramente de adorar a Deus e deixar que Deus seja Deus. Por isso se crê que tem que estar mudando constantemente coisas na liturgia, fazer inovações e que seja tudo muito criativo. Não é esta a necessidade da liturgia, senão que seja realmente adoração, isto é, reconhecimento dAquele que nos transcende e que nos oferece a salvação. O mistério de Deus, que é mistério insondável de seu amor, não é algo nebuloso, senão que é Alguém que sai a nosso encontro. Há que recuperar ao homem que adora. Há que recuperar o sentido do Mistério. Há que recuperar o que nunca deveríamos ter perdido. O maior mal que se está fazendo ao homem é querer eliminar de sua vida a transcendência e a dimensão do mistério. As conseqüências, as estamos vivendo hoje em todas as esferas da vida. É a tendência de substituir a verdade pela opinião, a confiança pela inquietude, o fim pelos meios...Por isso é tão importante defender o homem de todas as ideologias que o enfraquecem em sua tríplice relação com o mundo, com os demais e com Deus. Nunca antes se havia falado tanto de liberdade, e nunca antes houve mais escravidão.
- Quais os são os principais motivos de esperança que você observa em meio a esta Europa cada vez mais secularizada e distante de Deus?
- O grande motivo de esperança é o mesmo Papa e o que ele está constantemente dizendo. Este Papa está levando a cabo um ministério de Pedro tal como Jesus o encomendou a Pedro. Sua principal missão é confirmar na fé os irmãos e o está fazendo todos os dias. Todos os dias nos fala de algo que é a chave, o fundamento e o futuro de tudo, como é a afirmação, o reconhecimento e a adoração de Deus. Se não situamos a Deus no centro da vida do homem, não há futuro para a humanidade. É o que o Papa tem chamado ante os jovens, nada menos, "a revolução de Deus". Façamos a revolução de Deus! Por isso, para mim, o Papa, e todo seu magistério, é um grande sinal de esperança.
Excertos de uma entrevista ao Cardeal Cañizares, prefeito da Congregação para o Culto e a Disciplina dos Sacramentos.
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